28/03/2016

BeethovenBeethoven by Bernard Fauconnier
My rating: 4 of 5 stars

Uma ótima biografia. Excelente para os aficionados de música pois ajuda a entender as circunstâncias da vida do compositor no momento em que cada obra foi composta. Desta forma, pode-se apreciar melhor suas músicas. Genialidade e sofrimento psíquico podem andar lado a lado mas o autor faz questão de deixar claro que o sofrimento é sempre algo ruim, consequência de coisas ruins e que Beethovem jamais ansiou por isso. E no caso dele o sofrimento se manifestava através do alcoolismo herdado pelo pai, solidão e angústia. Dessa forma elide-se qualquer justificativa que alguém pode eventualmente vir a fazer para que o que hoje talvez fosse chamado de depressão seja glamourizado. Fica bem claro que estes quadros não são coisas desejadas pelo biografado que viveu sua vida em grande sofrimento psíquico e devemos sim ter é pena disto e não admiração.

Mostra também como a maioria dos grandes compositores viveram em grandes dificuldades materiais, sendo pouquíssimos os de origem aristocrática e nobre que nasceram viveram e morreram no luxo e conforto. E Beethoven de fato jamais foi um deles.


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O Santo Inquerito


O Santo InquéritoO Santo Inquérito by Dias Gomes

Sem querer entrar em controvérsias religiosas, é uma ótima peça teatral na medida que nos traz à reflexão sobre o que a falta de separação entre Religião e Estado pode vir a levar. É também interessante porque traça um retrato da Santa Inquisição que bem circulou em terras tupiniquins. A personagem principal Branca já virou lenda na Paraíba. A verdade é que poucos fatos sobre ela são realmente confirmados. Sabe-se que ela realmente viveu e acabou morrendo perseguida pela Inquisição. Todo o resto foi recriado pela habilidade do autor que se justifica dizendo no prefácio que: "quase nada se sabe comprovadamente, mas dadas as circunstâncias do espaço e do tempo, bem poderia ter sido desta forma". Típico dos romance históricos, que todos adoram. É uma boa peça, vale muito a pena ler. Pode ser lido em poucas horas. Difícil é achar uma encenação dela seja no YouTube seja pelos teatros do país. Review curtinho pelo fato da peça ser curtinha.

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22/03/2016

Guillaume de Machault

Guilhaume de Machault oferece-nos uma rara fonte sobre música. Se você é como eu meio viciado em música e que gosta de beber na fonte indo cada vez mais a fundo para descobrir a origem de tudo, vai adorar saber mais sobre ele. Tendo vivido pelos idos do anos 1300, a música ocidental deve muito a ele. Isso por que, dentre os compositores antigos cuja obra restou até nossos dias, ele é o mais antigo a codificar seus poemas musicados. Isso já utilizando a notação de 5 linhas que, com os devidos aperfeiçoamentos, chegou até nossos dias. Permaneceu praticamente esquecido ao longo dos séculos sendo redescoberto no séc XIX e amplamente pesquisado, catalogado e transcrito no seculo XX, com diversas obras suas aparecendo em diversos lugares. Parece até que estavam guardados nos cofres do tempo só esperando que alguém os abrisse. Legou-nos uma vasta obra e a sua biografia, sugiro caso haja interesse, que se dê uma conferida no artigo da Wikipedia que está muito bem escrito. É o medieval mais prolífico tanto em produção  propria como em exegeses.



Observe esse poema musicado com a notação quase idêntica à moderna. Foi escrito há mais 800 anos. Lindo não?

 Faço a devida ressalva moral ao fato que atualmente baixo meus álbuns da internet por dois motivos: 1 Simplesmente não têm no Brasil . 2 Quando por ventura tem, cobra-se preços exorbitantes por eles. Mandar importar... nem se fala, escrevo então sobre este álbum que é o que tive primeiro contato com o compositor.

Reconheço que as vezes o álbum é meio maçante. Mas veja, naquele tempo os principais instrumentos musicais da música erudita sequer haviam sido inventados. O que existia era no máximo versões mais simples deles. Deste modo a voz sozinha, o instrumento musical mais fácil de se obter e usar, era muito forte na musicalidade ocidental. Poemas cantados que por sinal foram herdados diretamente do canto gregoriano. À primeira vista (audição) me pareceu muito música de igreja, mas quando peguei a tradução para inglês para interpretar o que me deparei? Bons e velhos (800 anos de idade hehe) poemas de amor, lindíssimos! Isso no auge do cristianismos medieval! Musica secular em 1300! Vale a pena ter um pouquinho de persistência e escutar (e ler) esses poemas maravilhosos.

Filme 1

Filme 1


Sobre

Beethoven segundo Andy Warhol
Traduzindo do italiano o verbo"dilettare" significa "deleitar", "divertir", agradar. Em português, dileto vem do latim e quer dizer "muito querido", "preferido na afeição". Daí a palavra Diletante, que segundo o dicionário da Porto Editora quer dizer: Quem se dedica a alguma coisa por prazer e não por obrigação". "IL Dilettantte" é isso. É um alter ego criado por mim. Em plena era digital em que a privacidade está se tornando cada vez mais difícil de alcançar, criei este pseudônimo para designar a mim mesmo nas redes sociais, tão abundantes hoje em dia.

Sou um "trend hater", ou seja, evito ao máximo seguir as modinhas pois as coisas realmente boas, as que realmente valem a pena dedicar atenção na busca por entender e apreciar, são sim para sempre. Não são "trends". E quase sempre foram feitas antes mesmo de nós nascermos. Mas ocorre que modinhas são a base da nossa Sociedade do Digital. Com tanto lixo rodando pela Rede, eu decidi usá-la justamente para arte. Utilizei a abundância, a infinitude e eterna disponibilidade de dados da internet para me aprofundar de forma gratuita. Pois acontece que a rede de computadores é uma faca de dois gumes afiadíssimos: pode ser uma arma poderosa para o bem E para o mal. Graças a ela e a pirataria (infelizmente), ter acesso a Arte de qualidade elevada deixou de ser coisa cara, privilégio de poucos. Não precisamos mais de grandes somas de dinheiro para ter acesso aos grandes artistas da humanidade. Em alguns dias de banda larga temos em nossos HDs toda a obra já gravada de Handel, Mozart, Beethoven, J.S. Bach. Basta usar a internet dentro deste objetivo. Em alguns segundos de YouTube tenho execuções de qualquer obra erudita, tenho documentários sobre arte e os grande artistas da humanidade tudo ali, disponível e gratuito. Acabou a desculpa que acesso a informações sobre arte é caro. Esse negócio de música Clássica ser cara é algo aliás muito contraditório.



Pouquíssimos tiveram vida confortável a vida toda. (Wikipedia)
Paradoxalmente, a biografia de pouquíssimos compositores famosos é composta de homens ricos e esnobes. Mozart, Beethoven, J.S. Bach, Rachmaninoff, Chopin, Tchaikovsky para citar alguns, passaram por dificuldades financeiras agudíssimas. As vezes por guerras, as vezes por falta de público o fato é que alguns deles quando faleceram deixaram suas famílias em situações complicadas. Talvez essa seja a eterna sina dos músicos... o que é bom raramente é popular.

E quanto aos concertos? Numa época em que não havia rádio, televisão, computador, as pessoas iam ou ao Teatro ou à Igreja em busca de entretenimento ou ocupação mental. E eram isso: pessoas comuns que iam aos teatros e não (somente) as ricas e esnobes! Muitas vezes os ricos e/ou influentes não passavam de empregadores para os grandes artistas. A lógica é que se você paga pra alguém trabalhar para você, você vai exigir resultado do seu empregado. E a produção desse seu empregado vai sedirecionar de acordo com o que você gosta. Desta forma, o empregador de cada compositor em cada época de sua vida podendo ser a igreja, algum político influente ou rico aristocrata, exerceram profunda influência nas obras de cada compositor. Conhecer as circunstâncias de vida que cada compositor vivia no momento da composição de cada peça, ajuda a entender a obra dele.

Mas como eu bem disse a internet é uma faca de dois gumes, informação não traz necessariamente conhecimento (este parece ser o mote dos professores modernos). De forma que no mar de informação digital, disponibilidade deixou de ser o problema. O problema passou a ser organizar nossos métodos e nosso pensamento na busca do conhecimento. É pinçar neste Oceano Atlântico de informações somente o que nos interessa sem nos perdermos com tanta abundância.

Procuro ajudar todos a ver, como eu vi, que hoje em dia não precisa ser "rico" para botar um álbum de musica erudita a tocar o celular ou a buscar uma coleção de obras de arte nas redes sociais, a buscar informações precisas sobre determinado compositor musical.

Espero ajudar.

IL Dilettantte!

Art Post 1


20/03/2016

Incidente em Antares - Review


   Incidente em Antares é um romance histórico dividido em duas partes. A primeira é quase um documentário histórico do Rio Grande do Sul, bem ao molde dos dois primeiros volumes da obra prima de Erico: a saga Tempo e o Vento. Este quase documentário é polvilhado de fatos, autores, artigos, personagens históricos etc, fictícios e que o autor propositalmente não faz questão de distinguir entre o real e o imaginario, criando uma linha tênue e por vezes mesclada entre o que existiu e o que é imaginado pelo autor.

O autor inclusive cria uma divertida interligação entre o Tempo e o Vento, e a família Terra sendo ela aqui representada com o professor Martim Francisco Terra. É ele quem encabeça uma 'expedição' que vai até a distante cidade missioneira conduzir uma controversa pesquisa: "Anatomia duma Cidade Gaúcha de Fronteira". Que na verdade é um pretexto: o autor inseriu essa pesquisa através deste personagem na trama para 'fermentar' a história; 'dar um tempero' ao livro. Isso pois a forma como ela se desenrola é um tanto improvável, ou seja, o autor não é isento no seu texto. Mas isto apenas torna a história ainda mais interessante porque por muitas ocasiões, o resultado desastroso da pesquisa é hilário demais com situações bem típicas de cidades minúsculas. Nesta parte também também é traçada a trajetória das famílias Vacariano e Campolargo, 'coronéis' daqueles rincões do Brasil. Trajetória aliás bem excusa, totalmente intrincada com a trajetória da história de nosso país. Erico faz isso com muita habilidade, cria personagens imaginários dentro de contextos históricos muito precisos. Aqui a ficção mais uma vez serve de denúncia para as mazelas do país..

Já a segunda parte, a parte do "incidente", a história assume um quê de fantástico com a volta dos mortos. Aproveitando que não têm mais nada a perder põem-se a denunciar em praça pública todas as mazelas da cidade, a corrupção, a hipocrisia daqueles que são os falsos moralistas (veja bem nem todos é claro). Sem fatalismos, Erico mete o 'dedo na moleira' denunciando os personagens imorais da cidade, que acabam sendo mesmo metáforas para todos os políticos que são corruptos do Brasil. "Ah como o país não mudou nadinha" será o primeiro pensamento do leitor. E é isso mesmo pois o livro foi escrito em 1971 e se passa nos anos 60, de fato o país não mudou nada!

Literatura de qualidade é isso, Erico Veríssimo já está no panteão dos grandes escritores nacionais e ela deve necessariamente apresentar algo que dê o que pensar, deve deixar o leitor 'com a pulga atrás da orelha', deve romper aquele equilíbrio do pensamento e fazer do leitor uma pessoa com visão de mundo mais ampla. E é isso que o autor faz com o absurdo retorno dos mortos que é apenas um pretexto para falar de assuntos que afetam a todos os vivinhos da silva. Desde os anos 60. Ou seria desde muito antes?