Estuans interius
ira vehementi
in amaritudine
loquor mee menti:
factus de materia,
cinis elementi
similis sum folio,
de quo ludunt venti.
Cum sit enim proprium
viro sapienti
supra petram ponere
sedem fundamenti,
stultus ego comparor
fluvio labenti,
sub eodem tramite
nunquam permanenti.
Feror ego veluti
sine nauta navis,
ut per vias aeris
vaga fertur avis;
non me tenent vincula,
non me tenet clavis,
quero mihi similes
et adiungor pravis.
Mihi cordis gravitas
res videtur gravis;
iocis est amabilis
dulciorque favis;
quicquid Venus imperat,
labor est suavis,
que nunquam in cordibus
habitat ignavis.
Via lata gradior
more iuventutis
inplicor et vitiis
immemor virtutis,
voluptatis avidus
magis quam salutis,
mortuus in anima
curam gero cutis.
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11.
Queimando por dentro
Queimando por dentro
com veemente ira,
na amargura,
falei para min mesmo:
feito de matéria,
da cinza dos elementos,
sou com a folha
com quem brincam os ventos.
Se é este o caminho
do homem sábio,
construir sobre a pedra
as fundações da casa,
então sou um louco comparável
ao rio que corre,
eu que em seu curso
nunca se altera
Sou levado
como um navio sem piloto,
como através do ar
um pássaro a deriva;
nenhum vinculo me prende,
nenhuma chave me aprisiona,
busco meus semelhantes,
e me junto aos insensatos.
Meu coração pesado
é um fardo para mim;
o divertir-se é agradável
e mais doce que o favo de mel;
onde quer que Vênus impere,
o trabalho suave,
ela nunca habita
em corações indolentes
Meu caminho é amplo
como o quer minha juventude,
entrego-me aos meus vícios,
esquecido das virtudes,
mais ávido de volúpias
do que de salvação,
morta minh’alma
só minha pele me importa.
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In taberna quando sumus
non curamus quid sit humus,
sed ad ludum properamus,
cui semper insudamus.
Quid agatur in taberna
ubi nummus est pincerna,
hoc est opus ut queratur,
si quid loquar, audiatur.
Quidam ludunt, quidam bibunt,
quidam indiscrete vivunt.
Sed in ludo qui morantur,
ex his quidam denudantur
quidam ibi vestiuntur,
quidam saccis induuntur.
Ibi nullus timet mortem,
sed pro Baccho mittunt sortem.
Primo pro nummata vini,
ex hac bibunt libertini;
semel bibunt pro captivis,
post hec bibunt ter pro vivis,
quater pro Christianis cunctis,
quinquies pro fidelibus defunctis,
sexies pro sororibus vanis,
septies pro militibus silvanis.
Octies pro fratribus perversis,
nonies pro monachis dispersis,
decies pro navigantibus
undecies pro discordaniibus,
duodecies pro penitentibus,
tredecies pro iter agentibus.
Tam pro papa quam pro rege
bibunt omnes sine lege.
Bibit hera, bibit herus,
bibit miles, bibit clerus,
bibit ille, bibit illa,
bibit servis cum ancilla,
bibit velox, bibit piger,
bibit albus, bibit niger,
bibit constans, bibit vagus,
bibit rudis, bibit magnus,
Bibit pauper et egrotus,
bibit exul et ignotus,
bibit puer, bibit canus,
bibit presul et decanus,
bibit soror, bibit frater,
bibit anus, bibit mater,
bibit ista, bibit ille,
bibunt centum, bibunt mille.
Parum sexcente nummate
durant, cum immoderate
bibunt omnes sine meta.
Quamvis bibant mente leta,
sic nos rodunt omnes gentes
et sic erimus egentes.
Qui nos rodunt confundantur
et cum iustis non scribantur.
Io io io io io io io io io io!
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14.
Quando estamos na taberna
Quando estamos na taberna,
não pensamos na morte,
corremos a jogar,
o que nos faz sempre suar.
O que se passa na taberna,
onde o dinheiro é hospedeiro,
podeis querer saber,
escutais pois o que eu digo.
Uns jogam, uns bebem;
uns vivem licenciosamente.
mas dos que jogam,
uns ficam em pelo,
uns ganham aqui suas roupas,
uns se vestem com sacos.
Aqui ninguém teme a morte,
mas todos jogam por Baco.
Primeiro ao mercador de vinho,
é que bebem os libertinos;
uma vez aos prisioneiros,
depois bebem três vezes aos vivos,
quatro a todos os cristãos,
cinco aos fiéis defuntos,
seis às irmãs perdidas,
sete aos guardas florestais.
Oito aos irmãos desgarrados,
nove aos monges errantes,
dez aos navegantes,
onze aos brigões,
doze aos penitentes,
treze aos viajantes.
Tanto ao Papa quanto ao Rei
bebem todos sem lei.
Bebe a amante, bebe o senhor,
bebe o soldado, bebe o clérigo.
Bebe ele, bebe ela,
bebe o servo com a serva,
bebe o esperto, bebe o preguiçoso,
bebe o branco, bebe o negro,
bebe o sedentário, bebe o nômade,
bebe o estúpido, bebe o douto,
Bebem o pobre e o doente,
bebem o estrangeiro e o desconhecido.
bebe a criança, bebe o velho,
bebem o prelado e o diácono,
bebe a irmã, bebe o irmão,
bebe a anciã, bebe a mãe,
bebe este, bebe aquele,
bebem cem, bebem mil.
Seiscentas moedas não são suficientes,
se todos bebem imoderadamente
sem freio.
bebam quanto for, o espírito alegre,
Todo mundo nos denigre,
e assim ficamos desprovidos.
Que sejam confundidos os que nos difamem
e sejam seus nomes riscados do livro dos
justos
Io io io io io io io io io io!
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