21/08/2015

Review: Capitães da Areia

Subversivo? Panfletário? Comunista? Retrato do descaso com o menor abandonado no Brasil? Denúncia social? É realmente difícil definir esta obra prima de Jorge Amado. De cunho inegavelmente comunista, o impossível mesmo é o leitor ficar impassível frente as situações abordadas pelo autor. Revoltante? Talvez. Mas o que é mesmo revoltante: os infortúnios dos meninos retratados na história ou o fato de que uma chaga nacional retratada nos idos de 1930 continua abertíssima em nossas cidades? Muito pouco mudou no nosso país e ler este livro faz lembrar um outro de caráter policial: O Abusado, de Caco Barcelos.

Review: Cuidado, spoilers. 

Jorge Amado,  mostra-se engajado. É curioso notar como o comunismo ainda um tanto incipiente inspirava sinceramente os corações das pessoas. Escrito nos idos da Segunda Guerra Mundial, ele ainda não havia sido afetado pelos turbulentos eventos ao longo de quase todo o século XX. A União Soviética era o berço de um sonho que nunca se realizou plenamente, influenciando a "luta de classes" que no caso do livro é retratado pelos grevistas e pelo pai do menino Pedro Bala, assassinado numa batida policial. Isso num país políticamente instável em plena era Vargas . É muito difícil falar em comunismo sem despertar algum tipo de reação política, mas graças a este tipo de literatura, pela primeira vez teve-se a visão do mais fraco, do socialmente excluído desde o nascimento. Se o dia a dia destes menores abandonados não faz parte de nossa vida ou da vida do autor, pelo menos serve para criar um 'princípio' uma visão diferenciada sobre essa legião de crianças que nasceram e cresceram desgarradas, conhecendo apenas a lei da sobrevivência contra a fome, da lei do mais forte. Traz nos a reflexão, a olhar para dentro e quem sabe se reposicionar sobre algumas coisas?

 É também um documentário retratando situações de nosso país que hoje, aos olhos do século XXI são revoltantes. A forma como uma doença como a varíola é tratada pelas autoridades, discriminando expressamente os ricos dos pobres, que eram literalmente atirados em quarantena que representava quase certamente pena de morte, parece-nos impensável hoje. Pelo menos públicamente esta conduta é inaceitável.


Pérola da literatura nacional, certamente vai influenciar quem lê, ainda que minimamente. Ainda que não se concorde com tudo o que foi escrito.