17/02/2015

Literatura: Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto

Verdadeira pérola, gema rara da literatura nacional, não, da literatura universal. É notável a influência de um autor que também era jornalista, e como todo bom jornalista não podia deixar de tocar, em política, na verdade fazer política. Fazendo uma crítica mordaz ao Brasil da época retratada, sentando o martelo no Marechal Floriano, Lima Barreto cumpre o "papel social" da literatura, botando o dedo na ferida, empapando sua obra de crítica, especialmente a social. Afinal é pra isso que arte serve não? Quando não for concebida para criar algo realmente belo, serve para quebrar, denunciar, registrar, documentar, de preferência tudo isso. Exemplos são fartos, vastos, e aqui Lima Barreto consegue fazer os dois (crítica e arte).

É tentadora uma comparação entre o Brasil da época e o Brasil hoje: "nossa como esse livro é atual" é impossível não dizermos internamente. A imprensa, Jô Soares e etc especialmente adoram isso, comparar. 
Sendo um verdadeiro documentário de um grande conhecedor de causa, retrata as nossas mazelas e contradições ainda em "estado primitivo" porém já amplamente consolidadas e enraizadas no "ser brasileiro". Tais mazelas foram heroicamente resistindo ao tempo e chegaram sim (infelizmente) quase intactas aos nossos dias. Esse tipo de livro nos abre horizontes, dá argumentos para sustentar teorias e serve para consolidar opiniões.

Infelizmente também serve para desfazer ilusões. Apesar de proclamadores da república, nossos primeiros governantes foram desastrosos para o país em suas politicagens e ânsia por favorecimento pessoal em um país pobre (não estou falando de hoje). Não há como negar. O problema de se aprofundar nos mares do conhecimento é isso, desilusões: o Brasil é uma país mendigo SIM de "heróis nacionais" de figuras pessoais que personifiquem as virtudes de um povo, a nossa identidade nacional enfim. Não temos um Bismarck, um Napoleão, um Henrique VIII um Vittorio Emanuele, um George Washington um Pedro o Grande . Temos sim grandes nomes formadores da república, hábeis sábios que estavam no lugar certo na hora certo, mas não são de domínio publico, algo que todo brasileiro sem exceção saiba, respeite e cultue de um jeito ou de outro. E essa é uma das desilusões que Lima Barreto em seu tom ácido e quase debochado esviscera para todos estudarem.

Suas influências foram muitas, com bastas citações de Mitologia Clássica e autores franceses iluministas ou não - lembremos que a França foi o centro irradiador da cultura mundial até a  II Guerra Mundial.
O que pouca gente sabia (inclusive eu) foi sua principal influência. A navegar pelos reviews do Goodreads descobri um ótimo review do (acredite) The Guardian  do Reino Unido(será que os gringos dão mais valor ao que é nosso do que nós mesmos, oh eterna atroz dúvida....) e lá descobri que ele se influenciou profundamente no livro de Gustave Flaubert Bouvard et Pecuchet que fala a história de três "clerks"(funcionários públicos) aposentados que querem "aprender tudo sobre ciência com resultados desastrosos"

Enfim, livro básico na biblioteca de qualquer ser humano, já caiu em domínio público, pode ser facilmente encontrado de graça no Books.